No último dia 14/09, a atriz Giovanna Antonelli, que possui uma carreira sólida com quase 30 anos atuando em novelas e com mais de 17 milhões de seguidores, declarou para a “Revista Quem” que suas filhas gêmeas Sofia e Antônia, de 11 anos, ainda não têm redes sociais. A intenção é evitar a exposição e os perigos que isso pode gerar para elas.
A atriz ressaltou que quer resguardar suas filhas, porém ela sabe que chegará o momento que não poderá mais evitar o uso. A artista reflete sobre qual será o motivo dos pais “normais” permitirem a utilização, sendo que os próprios desenvolvedores das plataformas sociais não deixam que seus filhos tenham acesso a elas. Portanto, a especialista e idealizadora do modelo de Parentalidade Essencial, Camila Capel, esclarece sobre os cuidados que os pais devem ter ao expor os seus filhos aos perigos da internet.
Como lidar com a exposição dos filhos à internet e os desafios da parentalidade de adolescentes?
Por volta dos dez anos a criança sai da infância e caminha para a adolescência e esse período é marcado pela necessidade de estruturar, cada vez a identidade própria. Nesse processo, os vínculos sociais são um tema a ser conquistado, mas para que ele aconteça de forma saudável, deve incluir responsabilidades. A necessidade de estar mais perto dos amigos fica, naturalmente, intensificada. Esse é um movimento saudável do jovem e requer que os pais delimitem os contornos por onde poderão trilhar. Quando isso é bem trabalhados, dá ao jovem sensação de saber quem é, fortalecendo seu senso de identidade e os ajudam a realizar suas motivações e ideais.
O problema é que isso se trata de um processo, que tem início ainda muito cedo, quando ainda, praticamente, brincam de bonecas e carrinhos e, ao mesmo, tempo, ambicionam romper os limites familiares.
Os jovens, cada vez mais, parecem ser mais maduros do que, de fato, são e isso tem grande relação com a exposição as mídias e propagandas, que aceleram o desenvolvimento da sexualidade através dos contato com conteúdos que insinuam o corpo como forma de atração. Facebook, Instagram, smartphones, whatsapp encabeçam a lista de atrativos os quais três em cada quatro jovens navegam sem supervisão na internet. Realmente os pais não estão com tarefa fácil nas mãos.
E é muito comum caírem no engano de que o jovem nasceu “pronto” para este mundo. O fato de saber manusear um sistema com maestria, infelizmente, não o habilita para distinguir riscos e fazer um juízo correto de prós e contras. A internet é um potencial viciador de ofertas de consumo, violência, sexo. Pense no seu uso, com que frequência é bombardeado por conteúdos fortes, cenas sensuais e ofertas de compras que sabem o que você pensa antes de você verbalizar?
Os perigos
No guia “Crescer Saudavelmente nos mundos digitais” ( Ad verbum editorial) , o qual recomendo fortemente, foi elaborado um guia de orientação Para pais professores e todos os demais responsáveis por crianças e jovens e citado o porta da internet www.safekids.co.uk, ele combinou na fórmula, que chamou de CCCC (Conteúdo, Comércio, Contato, Cultura), os perigos resultantes do uso da internet por crianças e jovens:
Conteúdos: Materiais que colocam os jovens em risco como : pornografia, fóruns de distúrbios alimentares, exposição de violência, vídeos , extremismos políticos e incentivo ao fanatismo.
Comércio: publicidade, marketing agressivo, e spam, páginas de poker,ofertas eróticas etc.
Contatos : falsos contatos, abuso sexual verbal por pedófilos abuso real por meio de contatos físicos induzidos.
Cultura: assédio moral download de arquivos de música de jogos e de filmes distribuídos ilegalmente, violação de direitos autorais
Seus autores recomendam que os jovens entre 10 e 13 anos não tenham conta própria no Facebook, WhatsApp ou outros serviços de informação. De acordo com as normas atuais do Facebook e do Instagram, uma conta só pode ser aberta a partir dos 13 anos de idade. Na União Europeia, caso o jovem tenha menos de 16 anos, os pais devem dar o seu consentimento para ele abrir uma conta e, então, assumem a obrigação legal de supervisionar e controlar as atividades digitais do filho. Já a nova lei geral de proteção de dados (LGPD) no Brasil prevê somente o controle parental quanto ao uso de dados infanto-juvenis por empresas( lei 13.709, seção 3III, Art 14)
Eles enfatizam que nenhum dispositivo móvel, como smartphone, tablets dentre outros, devam pertencer a crianças nessa idade. Eles ainda vão além, dizem que não deveria ter nenhum aparelho de telas no quarto infantil.
Radiação
Além disso é preciso se atentar aos riscos decorrentes da radiação, A pesquisa mostra que mesmo cargas de radiação abaixo dos valores limites estão associadas a riscos consideráveis para a saúde humana bem como para a saúde dos animais e das plantas. tendemos a subestimar os riscos para a saúde associados à exposição à radiação de aparelhos celulares, apesar de está abaixo de valores-limite, a exposição contínua Traz riscos à saúde os fabricantes de smartphone sali então em suas instruções que os aparelhos deveriam ser mantidos a uma distância mínima do corpo do usuário para que os valores-limite legais válidos para as radiações de micro-ondas não sejam excedidos. Em países como França, Índia, Israel e Bélgica essas advertências já deram origem a orienta ações legais destinadas à proteção das crianças. Os efeitos biológicos de curto prazo causados pela radiação de telefones celulares falam em dor de cabeça crescente e persistente, fadiga, exaustão, perturbações do sono e dificuldade para adormecer, sensibilidade, irritabilidade nervosismo tendências depressivas distúrbios de memória e de concentração tonturas zumbidos nos ouvidos transtornos de aprendizagem e comportamento além de distúrbios cardiovasculares(taquicardia) e até distúrbios auditivos e visuais. os efeitos são denominados síndrome de micro-ondas e são comprovados por estudos. Esses efeitos costumam desaparecer após uma fase de recuperação de pelo menos 2 horas sem exposição à radiação mas muitas vezes apenas quando a exposição a radiação é permanentemente interrompida é que os sintomas desaparecem. Estes efeito são resultados de estudos feitos na feitos na Alemanha e em outros países e estão colocados de maneira detalhada no guia. Apesar dos riscos serem grandes também para adultos, as crianças têm uma necessidade maior de se protegerem já que a radiação penetra muito mais profundamente em suas cabeças do que nos adultos. O cérebro infantil recebe uma carga até três vezes maior do que o cérebro do adulto e os ossos até dez vezes mais final como o sistema nervoso e o sistema imunitário das crianças ainda não está totalmente desenvolvido, esse desenvolvimento pode ser facilmente perturbado. Outros apontamentos falam dos efeito da radiação dos aparelhos celulares, incluindo babá eletrônica sem fio, enquanto bebês ainda estavam no útero da mãe e durante os 7 primeiros anos de vida, segundo a pesquisa, crianças expostas desenvolveram, com frequência significativa, distúrbios de comportamento como TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade). Lembrando que roteadores também trazem irradiação e que esses riscos se estendem à família toda.
O guia nos traz algumas sugestões para que os pais possam dar uma dose saudável de liberdade para que o jovem possa agir de forma independente:
- Ter um computador com internet comunitário instalado na sala, isso ajuda a controlar períodos de uso e conteúdos.
- No caso de jovens que tenham tal acesso a internet e um aparelho sem supervisão (nunca com menos de doze anos),há a possibilidade da instalação de softwares para a limitação de tempo e filtragem de acesso ao computador ou celular, isso pode ser definido também no roteador.
- Estabeleça limites por escrito do tempo semanal e faço uma espécie de contrato para uso de mídias.
- É possível estabelecer consequências no caso de transgredir as regras, mas é importante que as consequências sejam aplicáveis e estejam bem claras.
- Converse sobre as leis e legislações existentes para que eles tenham consciência sobre infrações cometidas ao lidarem com fotos e áudios pessoais de terceiros e que isso já se enquadra na categoria de crimes e tem suas punições.
Autoeducação
Talvez você já saiba de tudo isso e ainda tenha acesso a informações de oftalmologistas que e enfatizam o quanto os aparelhos fazem mal, mesmo assim, como tantos outros pais, encontra dificuldade na proibição ou limitação. A atitude da atriz não é fácil de ser tomada e mais ainda, para ser mantida. Como dito, nesta fase os jovens estarão, cada vez mais, fora de casa, com amigos e seus pais terão outras posturas. Portanto, como transitar nesta realidade que nos chama a todo momento e proteger nossos filhos desse mal que sabemos ser real?
Os limites, mais uma vez, serão necessários e sabemos que eles acompanharão embates, discussões e muita contestação, o que é, igualmente, saudável para a formação da individualidade. Mas precisamos aprender como coloca-los, uma lista de proibições que, explicitamente, somente retiram coisas será a chave para o conflito. Lembre-se, ao dizer um “não”, estaremos dizendo “sim” a outra coisa, como por exemplo, sim para mais tempo de qualidade e presença íntegra com eles. Mas quantas vezes o tempo saudável de “não fazer nada” ao lado dos filhos, torna- se o momento de usarmos smartphone e olhar redes sociais? Lembre-se de que nessa fase os jovens buscam exemplos dignos de imitação e coerência entre o que falamos e o que fazemos, caso contrários, seremos “cancelados” enquanto “influenciadores”.
Fazer acordos, regras claras, conversas sobre como o tema é tratado em outras famílias são maneiras de começar a trazer consciência para que, mais tarde, ele mesmo possa decidir entre o que deve ou não consumir. Mas neste período, por mais que pareçam adultos, não têm ainda capacidade cognitiva, seus cérebros estão em formação e, até pelos menos vinte e cinco anos, segundos pesquisas recentes da neurociência, o cérebro ainda está em desenvolvimento. Sem a máquina pronta, não podemos entender que avaliação de riscos e consequências sejam coisas possíveis de serem feitas com eficiência.
O resíduo que a pandemia parece ter deixado para sempre em nossas vidas é a possibilidade de estarmos no mundo inteiro em um click, o que é incrível e possibilita tantas coisas. Os encontros remotos e o mundo virtual se tornaram ambientes de trabalho e nossa casa, uma extensão. Estamos conectados a tablete, computador e até mídias sociais se tornaram ferramentas de exposição e vendas de produtos. Isso nos coloca quase em tempo integral “trabalhando” e os filhos estão assimilando esse jeito de viver. Como o filho que quer se tornar médico, advogado, professor como os pais, estar na mídia também se tornará referência e precisamos estar tranquilos em relação aos exemplos que, naturalmente, estaremos passando. Mais uma vez, essa visão de parentalidade não pretende dizer o que é certo e errado, mas trazer consciência para a educação e enfatizar a importância da autoeducação. Estar em paz com nossas escolhas e agir de um lugar de verdade, é tudo que os filhos precisam nessa fase da vida. Quando nossas falas são condizentes com nossas atitudes, estamos educando de maneira adequada nesta fase. Eles querem exemplos de pessoas que se apropriam de suas vidas com amor pelo que fazem e em coerência entre fazer e falar.
Neste sentido, mesmo pais que usam o meio midiático como forma de trabalho podem não ser incoerentes, a medida que têm isso muito claro dentro de si. Se não fosse assim, um pai que está no comércio de bebidas alcoolicas como sustento de sua família, teria que permitir que seus filhos bebessem? Obviamente que não. Quando os pais se colocam a partir de um lugar de autoridade amorosa e em congruência com os valores que acham importantes estão ensinando seus filhos a, também, agirem desta forma.
Ainda que o mundo esteja digital, inclusive que você use este meio como profissão, e que crianças ganhem tablets com acesso ilimitado com 7 anos de idade, existe valor em seguir seus princípios e não seguir a manada. Ainda que seu filho confronte esta suposta incongruência e reclame aos quatro ventos que se sente diferente das outras crianças, que tal falar do quanto, também, é difícil para você ser diferente dos outros pais e o quanto se sente um ” estranho neste ninho”, mas fale da sua convicção que o faz superar o medo de não ser aceito, que faz por acreditar que essa é a melhor verdade e, principalmente, que faz em nome do amor. Tenha certeza, ainda que revirem os olhos, você está sendo exemplo para que, mais tarde, eles saibam resistir e nadar contra correntes que a vida vai lhe trazer; momento que, se tudo correr bem, você não estará mais comandando suas horas frente as telas porque ensinou-lhes a ter autonomia e responsabilidade sobre suas escolhas.
Quando recebo este tema polêmico nas famílias sobre tirar ou não as telas, costumo indagar aos pais: E vocês, conseguem, igualmente, resistir aos impulsos de recorrer às telas, redes sociais e outros meios de fuga nos seus próprios momentos de vazio e ócio? Para além de uma proibição dos eletrônicos para os filhos, provoco a perguntar: você está conseguindo resistir às tentações que o seduzem?
No exercício da parentalidade, temos a oportunidade diária de revisitar as próprias emoções, desafios e “vícios“ socialmente aceitos. E não necessariamente as telas são as vilãs; excesso de alimento, esporte, compras e até pensamentos podem viciar. Nesta visita, proporcionada pelo desafio de educar, ganha-se a oportunidade de conhecer mais a si mesmo. Quando o adulto encontra em si um lugar que precisa ser educado e que exige força da sua vontade, pode falar a partir de um lugar de autoridade, mas não por ser aquele que “manda”, mas porque é aquele que tem forças para se transformar e, assim, torna-se, naturalmente, uma inspiração e verdadeiro exemplo, digno de ser seguido.