Uma das facetas mais importantes na vida de um artista é a sua versatilidade, a forma camaleônica como ele atravessa diferentes trabalhos é o fio condutor de uma carreira longa e de sucesso, e é um termo que pode definir Kelner Macêdo. O paraibano percebeu cedo que era nas artes que se encontraria. Hoje com 27 anos, vem se destacando em diversos trabalhos, não somente na TV, como em tramas de sucesso como “Onde nascem os fortes”, “Sob Pressão” e em “Verdades Secretas 2”, que vai estrear em agosto na TV Globo, e foi sucesso no GloboPlay, mas também em trabalhos no cinema e em outras plataformas. Porém, antes de colocar o “pé na estrada” para a sua jornada artística, ele precisou “descobrir” o seu ofício.
“Trabalho desde os 12 anos, já trabalhei numa padaria, fui recepcionista, fiz assistência de câmera, cobertura de eventos, animação de festas – da recepção dos convidados à animação – fantasiado de cabeção. Sai da casa da minha avó com 17 anos, tive que me desdobrar desde cedo pra sobreviver e construir uma narrativa diferente da que estava “reservada” pra mim” – lembra.
Em 2016, foi para São Paulo onde protagonizou o longa “Corpo Elétrico”, do diretor Marcelo Caetano.
“Fui para São Paulo para gravar o longa e fiquei atravessado com as possibilidades que a cidade me trazia, tanto de trabalho, como de acesso à programação cultural, os encontros, os artistas… Logo entendi que era em São Paulo que eu queria morar a partir dali. Isso foi se alargando, e a vida foi tomando novos caminhos. Logo veio o Rio de Janeiro, e a ponte SP x RJ se estabeleceu, é onde me encontro atualmente, nesse fluxo entre uma cidade e outra” – comenta.
Com o sucesso de “Corpo Elétrico”, ele começou a trabalhar em mais produções para o cinema e também teatro.
“O cinema é um dos grandes acontecimentos na minha carreira, onde tudo começou e o que me abriu as portas para a TV. Além de “Corpo Elétrico”, destaco o curta “A Mordida”, do diretor português Pedro Neves Marques, são dois trabalhos importantes, que percorreram cinemas e festivais do mundo inteiro, trazendo muitos prêmios para casa. Também destaco a última peça que fiz chamada “Lobo”, da diretora Carolina Biancchi” – conta o ator.
Como ele mesmo diz quando pequeno perguntava a sua avó como que ele fazia para entrar naquele quadrado que passava imagens que tanto o maravilhava, mal sabia que conseguiria “entrar” nesse mundo da teledramaturgia e também de outras frentes na cultura.
Nesse tempo a teledramaturgia surgiu na sua carreira. Fez parte de sucessos como “Onde Nascem os fortes”, em 2018, e “Sob Pressão”, (onde vive o personagem Kléber desde da 3ª temporada), ambas produções da TV Globo, além de protagonizar a série “Todxs Nós” da HBO. No final de 2021 foi um dos destaques de “Verdades Secretas 2” onde viveu Mark, DJ oficial da Radar Club. Na história, que está no catálogo do Globoplay e que estreia em agosto na TV Globo, seu personagem tem vários acontecimentos na sua trajetória e aos poucos o público pode ver novas camadas do DJ. A trama se desenrola e ele vive um romance com mãe e filha, vividas pelas atrizes Paula Burlamaqui e Rhay Polster, respectivamente, e protagoniza muitas cenas sensuais.
“É um prazer trabalhar com o Walcyr Carrasco, além de poder trocar com pessoas tão potentes envolvidas nesse projeto. É um trabalho que toca em muitas questões delicadas dos relacionamentos humanos, sentimentos, da luz às sombras de cada um, então recebemos feedbacks bem diversos. Esse papel me levou a encontrar novas texturas enquanto ator e chegar em outros públicos com relação à visibilidade. A novela foi muito vista no Globoplay, então muitas pessoas que não conheciam ainda meu trabalho, puderam conhecer. Fico feliz com a repercussão e carinho que chega em forma de mensagens diariamente e estou muito empolgado com a chegada da trama na TV” – diz.
Na novela Kelner precisou fazer cenas de nudez, algo que não foi novidade na sua carreira. Ele não vê problema em fazer trabalhos que demandem que precise ficar nu. Em 2019, por exemplo, se despiu no clipe de “Pedrinho” da cantora Tulipa Ruiz, onde ele, junto a outros artistas, se desnudam para mostrar a liberdade e a pluralidade.
“O corpo do ator está a serviço da obra, e nesse sentido pode vir a ser uma ação revolucionária, pensando no contexto em que vivemos, norteados por uma moral castradora que deseja controlar o poder dos nossos corpos e limitar suas possibilidades, acho que a nudez vem com uma força transformadora que pode romper paradigmas. No clipe em específico, se trata de uma ode à liberdade, um encontro afetivo entre nossos corpos em contato. Foi muito bonito ver os corpos florescendo ali, criamos um espaço afetivo de acolhimento e troca, e mesmo os que chegaram inseguros em se despirem logo foram se desfazendo das inseguranças e se deixando atravessar por esse encontro. Foi um trabalho transformador pra mim e acredito que para muitos ou para todes que ali estavam” – destaca.
Além de “Verdades Secretas 2” que entra no ar em agosto na TV Globo, Kelner também está na 5ª, e última, temporada de “Sob Pressão”, no catálogo do GloboPlay. Na história ele vive Kléber, namorado do médico Décio, vivido por Bruno Garcia.
“Gravamos em meados de 2021, logo após o fim da 4ª temporada, foi muito emocionante gravar o desenrolar da história que traz um desfecho da história de Kléber e Décio” – ressalta Kelner.
O artista fala também da importância dos assuntos tratados na série.
“Sob Pressão” é uma série muito necessária para o Brasil, traz discussões pertinentes ao tempo atual, um retrato de um país real com todas as suas fragilidades e capacidades de dar a volta por cima. Eu acho uma dramaturgia muito inteligente, e com o passar do tempo vai ficando mais e mais refinada. O Kléber é um desses personagens que eu vou levar para sempre comigo, ele me atravessa completamente e me chama pra vida com sua força, com sua resiliência, e com todas as suas verdades” – completa.
Kelner fala também do carinho que o público nutre pelo casal com Bruno (Garcia) e as mensagens que recebe.
“É delicioso receber essa resposta do público, significa muito para o meu trabalho e para as questões que levantamos na série. Além de deixar muito nítida a necessidade de mais histórias de pessoas LGBTQIAP+ sendo contadas na televisão, no streaming, no cinema, e em todas as plataformas de produção de conteúdo. Eu amo e me surpreendo muito positivamente sempre que vejo histórias assim sendo pautadas nas dramaturgias, precisamos de espaços mais diversos e com existências mais plurais sendo consideradas, elas trazem um sabor novo, uma curiosidade nova, um tesão novo. E esse carinho, essa torcida do público como resposta só me traz mais certeza disso” – comemora o intérprete de Kléber.
O ator está em gravação de um novo trabalho, a série “Os Outros”, de Lucas Paraizo, para a TV Globo, com previsão de lançamento para 2023, na história ele viverá o personagem Amâncio. Além da série, ainda em 2022 ele poderá ser visto no filme “A Vida que Resta” (título provisório), do diretor Flávio Botelho.
“É um filme muito especial, que chegou na minha vida na virada de 2018 para 2019 e me convidou à um mergulho muito profundo na construção do personagem; gravamos no início de 2019, e agora ele está ficando pronto. É uma produção que me desafiou em todos os aspectos, eu tenho muito carinho e estou ansioso para conferir o resultado” – complementa o ator.
Kelner também começa a tocar a sua primeira produção, onde assina o roteiro e a direção. O nome é “Ponte Sobre Rio Seco”, um curta, que está em fase de pré-produção, de captação de recursos. A história, que se passa em São Paulo, é baseada numa experiência real que aconteceu quando o ator chegou à cidade.
” O filme fala da vida de Matheus, um jovem ator paraibano, que acaba de chegar em São Paulo para protagonizar o primeiro longa-metragem de sua carreira. Ele é atravessado pelo fluxo da cidade e pelas especificidades da vida na maior metrópole do país” – adianta Macêdo sobre a história do longa.
Ainda sobre “Ponte Sobre Rio Seco”, ele fala sobre a inspiração para o título.
“O principal momento do filme se passa no viaduto, quando um encontro acontece. Temos dois polos opostos que se cruzam nessa grande ponte. E abaixo de seus pés há um rio que secou. É uma alusão aos muitos rios que foram engolidos pela cidade no geral, ao mesmo tempo que também diz respeito aos rios de dentro da gente, que se não cuidarmos, vão secando igualmente, vão sendo abafados pela dureza da metrópole” – finaliza.