“Sem Pensar no Amanhã” é o título do novo álbum de Alceu Valença, o primeiro voz e violão de sua carreira, que chegou hoje (12) aos aplicativos de música, pela gravadora Deck. São onze faixas em que o artista recria suas canções, entre o essencial e o intimista: tem releituras de sucessos (“La Belle de Jour”, “Táxi Lunar”, “Estação da Luz”), temas sempre requisitados pelos fãs (“Iris”, Marim dos Caetés”), além de frevos (“Chego Já”, “Pirata José”) e o samba inédito que dá título ao álbum, “Sem Pensar no Amanhã”. É o primeiro de uma série de lançamentos de Alceu neste formato.
Em quarentena desde março, Alceu Valença aproveitou o período de incerteza para tocar violão como nunca em sua casa no Rio. Acostumado a passar mais tempo na estrada do que em casa, de um momento para outro o artista andarilho viu-se obrigado a recriar seu cotidiano sem tempo de pensar no amanhã. O violão acabou sendo sua melhor companhia.
Os dias passavam lentamente e Alceu aproveitava para apurar a técnica: buscou novas maneiras de interpretar seus sucessos, reinventou tesouros escondidos de seu repertório, descortinou músicas inéditas, trafegou do frevo ao samba, do xote blues ao frevo-de-bloco. Meses depois, entrou no Estúdio Tambor (Rio de Janeiro) munido do violão e de múltiplas ideias. O que a princípio seria um álbum simples acabou por tornar-se uma série de lançamentos digitais. Foram cerca de 30 músicas, gravadas entre novembro e janeiro, com produção de Rafael Ramos.
Primeiro dos três álbuns previstos para este ano, “Sem Pensar no Amanhã” sai no dia do aniversário de Olinda e Recife, duas das matrizes sonoras do compositor. Na definição de Alceu, o álbum segue uma espécie de roteiro cinematográfico: “Gosto de inventar um roteiro em meus discos e mesmo nas apresentações ao vivo. Um álbum pode ser pensado como uma viagem ou um filme. A câmera vem da praia de Boa Viagem em “La Belle de Jour”, sobrevoa igrejas de Olinda em “Mensageira dos Anjos”. Viajamos no “Táxi Lunar”, no trem da “Estação da Luz”, vamos até a ilha de Itamaracá e a praia de Marinha Farinha com a “Ciranda da Rosa Vermelha”. A música leva a lugares onde a quarentena nos impede de chegar” – explica Alceu.
E como não há vírus capaz de deter a poesia, o cantor nos conduz ao imaginário carnavalesco olindense. No frevo “Chego Já”, saúda blocos históricos como Elefante, Pitombeira, Segura a Coisa. Trafega por mares de Holanda, Luanda e Salvador no bloco das flores de “Pirata José”. Originalmente um frevo-de-bloco, o “Beija-Flor Apaixonado” ganha contornos de samba, a exemplo da inédita “Sem Pensar no Amanhã”, que celebra a magia carnavalesca da cidade histórica.
Passada a folia imaginária, o canto dos rouxinóis e dos concrizes surge entre papoulas vermelhas pelo encanto de “Iris”. “Marim dos Caetés” remete ao nome indígena ancestral da Olinda guerreira. O artista – e a cidade – ressurgem revigorados em sua essência.
“Há anos eu não passava tanto tempo com meu violão. Acho que desde a época em que morei em Paris, na década de 70. Era preciso me manter produtivo no meio de tudo isso e então decidi gravar todo o material que venho praticando ao longo de tantos meses” – anuncia o cantor.