O cantor e compositor carioca Claudio lançou seu primeiro EP na quinta-feira (27). Intitulada “Pra Molhar”, a coletânea traz sete canções – desde queridinhos do público, como “Brota comigo” até a inédita “Calor Cicatriz”. A produção irá abordar a sensibilidade do homem preto e traz referências a sua trajetória artística – uma maré de afetos.
“Quero mostrar a possibilidade do afeto e do sentir, especialmente como um homem negro, que é visto como uma figura forte e agressiva. Quero mostrar que nós amamos, choramos e sentimos dor. A analogia da favela até a praia representa esse percurso árduo que eu e tantos outros fazemos. Esse lançamento representa o meu mergulho e meu direito de usufruir desse mar” – acrescenta Claudio.
Os visualizers e a fotografia fazem referência a estética de ambulantes do litoral carioca, que usam a praia como forma de sustento. Para o cantor, seu trabalho se dedica a criar narrativas positivas sobre a beleza do que é comum dentro da cidade.
“São pessoas que estão em um ambiente de lazer, mas não usufruem dele. A praia como lugar democrático funciona na teoria, mas na prática as desigualdades também atravessam este espaço. Nessa analogia colocamos estes homens como protagonistas, porque eles representam a subjetividade e os afeitos de homens negros que, como eu, estão à mostra, mas são invisibilizados” – acrescenta.
Com influências que vão da MPB às raízes Afrolatinas, todas as composições são autorais. O destaque fica por conta de “Cai no Mar”, capa da coletânea que traz uma metáfora sobre a profundidade das relações humanas e a inédita “Calor Cicatriz”.
Ouça o Ep: Pra Molhar:
“A primeira é uma música tropical, que usa o violão e a percussão para trazer um ambiente de calmaria e reflexão. A letra traz duas visões e formas de se relacionar, um ponto onde alguém deseja se jogar e mergulhar no afeto e outro onde alguém prefere manter a solidez e se firmar no que é possível, sem correr riscos. Já “Calor Cicatriz” é um convite para se molhar e viver um amor com liberdade e sem culpa” – aponta.
O EP abre com a participação especial de Dona Mirtes, mãe do cantor e ator, que concedeu um relato pessoal e emocionante sobre seu filho. Claudio traz ainda uma poesia cantada, como forma de expressão artística.
“Quis trazer diferentes formas e linguagens que me ajudassem a construir essa narrativa do sentir, e a poesia tem o poder de externalizar essa voz. É um trabalho de exposição das minhas vulnerabilidades, falo que vivências minhas. Quero romper com minhas amarras e paradigmas sociais e mostrar quem eu sou de verdade, e a arte é sobre isso, sobre ressignificar histórias – explica.
O carioca do Morro do Jordão, zona oeste do Rio de Janeiro, iniciou a carreira musical em 2020, quando escreveu e produziu seu primeiro single, “Além do Estalo”. Agora ele planeja o reencontro com seu público, distante durante esse processo.
“Começar os lançamentos na pandemia foi desafiador, porque não tive o público por perto para entender como as letras chegavam às pessoas e isso é fundamental no trabalho de qualquer artista. Porém, ao mesmo tempo, fazer música foi o que me manteve de pé e seguindo em frente num período tão difícil para todos nós. Sinto que, agora, posso receber essa galera e me conectar pessoalmente” – finaliza.