O programa “Linha Direta” voltou à TV e um tema relacionado aos crimes retratados começou a ser discutido: a dor dos familiares das vítimas em reviver o drama. Foi assim na semana passada quando a atração relembrou o caso da morte e sequestro da adolescente Eloá Pimentel, de 15 anos, que foi mantida aprisionada pelo ex-namorado, Lindemberg Alves, de 22. Na época, Lindemberg invadiu o apartamento onde morava Eloá e manteve ela, sua amiga Nayara Rodrigues e outros dois colegas de escola delas reféns. Eloá ficou cinco dias em cárcere privado, sob ameaças do namorado, e acabou morta depois de uma desastrosa ação policial.
Logo depois do programa, familiares de Eloá usaram as redes sociais para fazer um desabafo sobre o programa. “Existiram sonhos, anseios, sorrisos, planos, histórias e muito mais coisas positivas que poderiam deixar a memória [de Eloá] sempre viva nessa e em outras gerações. Mas não, preferem a dor, preferem resumir a história somente ao que traz à tona os piores momentos da via de alguém”, disse uma cunhada da vítima.
A advogada Marilia Golfieri Angella, especialista em direito de família, gênero e infância e juventude e sócia-fundadora do Marília Golfieri Angella – Advocacia familiar e social, explica que embora a dor dos familiares deva ser acolhida, a violência de gênero, como foi a desse caso, só se combate com acesso amplo à informação.
“Este crime bárbaro praticado há 15 anos ainda é atual em nossa sociedade. Casos assim são, infelizmente, parte da construção da nossa história, como sociedade. Reconhecendo que somos, sim, um país com altas taxas de violências contra mulheres, conseguiremos enfrentar essa batalha de forma adequada e eficaz. Há um lado positivo em programas como Linha Direta para nós mulheres e por dar voz para informações verídicas sobre fatos que ainda são cotidianos. Não mostrá-los é silenciar a causa da violência contra mulheres dentro dos espaços coletivos, públicos e privados “, afirma a advogada.
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E mesmo que vítimas ou familiares invoquem o direito de a mídia não rememorar seus casos, a advogada lembra que em 2021 o Supremo Tribunal Federal definiu que o direito ao esquecimento é incompatível com a Constituição Federal. A decisão foi tomada em uma ação movida pelos familiares de Aída Curi, assassinada em 1958, contra a TV Globo, que exibiu uma reportagem sobre o crime no programa Linha Direta, em agosto de 2004. “Contudo, excessos ou abusos, como publicação de mentiras ou de notícias desatualizadas, podem ser reparados na Justiça”, finaliza Marilia.