A recém estreada versão brasileira de Casamento às Cegas, reality show disponível na Netflix, tem levantado inúmeros debates. Pode, realmente, o “felizes para sempre” ser resultado de uma simples paixão provocada por conversas que acontecem por trás de paredes sem contato visual? Mais que isso, “Casamento às Cegas”, revela que as mulheres de hoje não são mais como antigamente. Já os homens…
Deborah De Mari, uma das 100 pessoas mais influentes em pesquisa de gênero no mundo e fundadora da Força Meninas, uma plataforma educativa que desenvolve em meninas habilidades para que elas protagonizem as oportunidades do século XXI, levanta cinco estereótipos de gênero quebrados no programa. “Casamento às Cegas Brasil, que promete colocar o mito do amor romântico em cheque, chama muito mais atenção pelos comportamentos não esperados, ou desesperados, de homens e mulheres na busca do grande amor. É aí que vemos os clichês de gênero se dissiparem”, afirma a pesquisadora.
Déborah, que também é criadora do prêmio Mude o Mundo como uma Menina, que acontece no dia 23/10 e destaca meninas de 13 a 21 anos e seus projetos para mudar o mundo e as ajuda com capacitação e mentoria para que cheguem ainda mais longe, escreve em sua análise que se o gênero fosse às cegas, as atitudes permitiram a grande parte dos participantes uma troca de papéis.
Conheça os 5 aspectos que chamaram a atenção da ativista dos direitos das meninas mulheres.
(Este texto contém spoiler dos 5 primeiros episódios).
1 – Mulheres são românticas, homens são lógicos
Alto, moreno e simpático, o iraniano Shayan Haghbinghomi chama de imediato a atenção das participantes pelo sotaque gringo. Apesar das perguntas insistentes, ele esconde o jogo sobre sua nacionalidade até o segundo encontro.
De conversa fácil, se conecta de imediato com a modelo e mãe solo Ana Prado. No papo entre os dois, ele destaca a importância do respeito; ela fala de imediato que um relacionamento com ela tem que incluir sua filha. Shayan volta do encontro animado, e quando se vê na companhia dos outros rapazes, fala alto que já encontrou sua escolhida e que as afinidades e conexão foram imediatas. Ana o descreve como o mais interessante que conversou.
No jogo da razão versus a emoção, as mulheres do programa claramente procuram racionalizar afinidades, enquanto os homens estão, em sua maioria, orientados pelas aparências. Segundo eles mesmo falam, parecem desorientados sem uma bússola emocional adequada para reagir ao jogo, ou atrapalhados, fingindo aparências.
Essa dinâmica se repete em outros encontros, como o de Ana Terra e Mack (dispensado), Dayane Feitosa e Rodrigo Vaisemberg.
2- Mulheres competem entre si e homens são amigos
Aventura e o inesperado, ou a segurança do amor tranquilo? Esse foi o dilema enfrentado por Ana Terra ao sentir-se confusa entre os bonitões Thiago e Mack. Mack, o arquiteto que vende sonhos, desde o primeiro encontro colocou a beauty artist no topo da sua lista, já o oponente Thiago disse que ela se encontrava no seu 4º lugar até ouvir as palavras de Mack. Nos episódios que seguiram, um papo reto entre Mack e Thiago revela que a personalidade galanteadora e dúbia de Thiago, e a tensa de Mack. Os fatos que seguem mostram dois marmanjos em sucessivos encontros com a escolhida tentando vender seus atributos e demonstrando porque deveriam ser os escolhidos.
Situação muito parecida aconteceu entre as mulheres. O maranhense Lissio Fiod e as baianas Luana e Carolina encenaram uma situação muito parecida, mas ao contrário da disputa entre os moçoilos do caso anterior, vimos duas mulheres fortes e com o pé no chão, conversando de igual para igual.
Por fim, já que Lissio não decidia, Carolina tomou a dianteira e deu um chega para lá no rapaz por entender que não era esse o tipo de relação que procurava. Certa ela!
3- Mulheres buscam casamento como forma de ascensão social
Após alguns encontros as afinidades entre os participantes Day e Rodrigo, uma grande diferença salta aos olhos de nós, telespectadores: a diferença social. Rodrigo, que se apresenta como empresário, de origem judia, diz que vem de uma família de artistas mulheres, a avó é pintora, as tias e a mãe desenham muito bem. O fato chama a atenção da bancária Day, que de maneira direta argumenta.
“Eu sinto que nós temos muitas diferenças. Sou de uma família muito mais humilde, sou a primeira pessoa da família da minha mãe que se formou”, diz Day, que complementa “se você for conhecer a minha família te levarei para um churrascão na laje.”
Ele, de imediato, diz que isso não será um problema, que eles levarão isso numa boa. Ou seja, em nenhum momento Day se posiciona no sentido de ter entrado na relação para ascender socialmente.
4- Mulheres gostosas não são burras. Pelo contrário.
A bancária Dayane, à primeira vista, impressiona pelas formas e o decote à vista, mas em pouquíssimo tempo seu bom humor e leveza em tratar de temas importantes para um relacionamento saudável impressionam. Em poucos encontros com o piegas, mas divertido Rodrigo, Dayane conversa de maneira leve, mas direta sobre ciúmes, trabalho, diferenças sociais e até sexo. Dayane mostra que o mito da gostosa burra é só mais uma falácia que coloca mulheres em caixinhas com o objetivo de desencorajá-las a ser quem são.
5- Mulheres são frágeis e inseguras, homens são fortes
No primeiro jantar, Carol e Hudson vivenciaram uma situação que rendeu muitas conversas com os outros participantes e escancarou o machismo nosso de cada dia nos rapazes que até o momento pareciam descolados.
Na ocasião, Carol perguntou ao garçom por que a degustação do vinho era oferecida apenas ao seu par e não a ela. “Por que só o homem primeiro?”, perguntou ela. Depois, argumentou que servir também a mulher na degustação era uma questão de quebrar tabus.
Hudson ficou bastante contrariado com a postura de Carol. A ativista feminista e racial reforçou que o parceiro precisava de uma desconstrução. Ele, a princípio, mostrou-se disposto e colocou no jogo sua vulnerabilidade com a frase: “A forma como a Cá lida com o feminismo me assusta! Me incomoda a maneira como ela faz isso. Tudo que a gente falou de papel de homem, eu posso ser o exemplo de homem, sabe? Mas me dá medo de não suprir o que ela espera, mas eu estou me reconstruindo.”
No jantar coletivo, Carol voltou ao tema e a cara de constrangimento geral foi evidente. Enquanto isso, as mulheres seguiam conversando sobre os desafios do presente e do futuro; os homens, ou os meninos, pareciam tremendamente assustados com a atitude de uma mulher independente e que fala o que pensa, como Carol. O ponto baixo fica ao participante Thiago Dutra, que tem falas dignas de um folhetim de época: “Não aceito ser constrangido em público, roupa suja se lava em casa”
O que os próximos episódios de Casamento às Cegas nos reserva saberemos ao longo dos dias, mas uma coisa já se sabe: o reality está aí para mostrar que esta geração de mulheres jovens sabe muito bem o que quer, e como disse a Carol ao Hudson, mas que serve para todos os homens”: “Não se sinta pressionado por eu ser uma mulher independente. Esteja consciente de que se ela te escolheu é porque sabe que você está aberto a conversa”.