A novela “Poliana Moça”, do SBT, vem conquistando o carinho do público, mas uma das personagens mais queridas se tornou alvo de críticas nas redes sociais. O motivo? A personalidade forte e decidida. É o caso de Joana, interpretada pela atriz Daniela Paschoal. Nas telinhas, Joana e o marido Sérgio (Guilherme Boury) passam por momentos complicados no casamento, em razão de brigas e da falta de comprometimento por parte de Sérgio.
“Nunca tinha recebido esse tipo de retorno negativo, confesso que fiquei bem surpresa. Acho que falta um pouco de empatia com a Joana. Ela anda mexida e abalada com o casamento, mas as pessoas julgam esse comportamento como frescura e “mimimi” – diz a interprete.
As críticas surgiram depois que a personagem passou a exercer um papel mais importante na Onze, empresa na qual trabalha ao lado do marido na trama. O novo cargo fez com que Joana dividisse as responsabilidades de cuidar dos filhos Luigi (Enzo Krieger) e Mário (Théo Medon), junto a Sérgio, atitude que que não agradou os espectadores.
“Ainda é muito explícito essa desigualdade entre os gêneros, o sexo masculino continua sendo favorecido, as mães ainda seguem sendo as principais responsáveis pelos seus filhos, isentando os pais de grande parte da responsabilidade” – diz a atriz.
Em uma situação específica, Sérgio fica responsável por vigiar os filhos enquanto Joana está no trabalho. Entretanto acaba dormindo, ignorando suas responsabilidades como pai. Sem supervisão, uma das crianças passa mal após ter ficado 12 horas sem comer e beber água, apenas jogando videogame. Ao chegar em casa e ver a cena, Joana briga com o marido, decepcionada pela atitude dele.
Eu recebi muitas mensagens de mulheres dizendo que a Joana estava sendo exagerada, que o marido estava muito cansado e que ela pegou pesado com ele. Mas fico me perguntando, será que se fosse o contrário, se a mãe tivesse pego no sono e esquecido o filho, as pessoas teriam pena dela, assim como tiveram com o pai, ou ficariam contra ela, dizendo que ela foi irresponsável e que negligenciou o próprio filho? – ressalta Daniela.
Para a atriz, as críticas evidenciam o machismo da sociedade, que recai na figura da mulher toda a responsabilidade sobre a casa e a família, isentando o homem de seus deveres.
“A Joana sempre questionou a ausência do marido dentro de casa, e agora que ele está tentando se aproximar mais, as pessoas romantizam essa atitude, vendo como algo legal ou fofo, quando na verdade esse tipo de postura deveria ser normal, são obrigações simples de um pai” – enfatiza.
Daniela comenta ainda sobre a importância de se posicionar sobre o assunto, e o problema de normalizar tais atitudes.
“As mulheres estão cada vez mais seguindo em busca de igualdade, mas mesmo assim ainda somos minorias em cargos de liderança. As pessoas nos questionam o tempo todo, duvidam da nossa palavra e desqualificam nossa capacidade. São diversas manifestações machistas que sofremos diariamente, muitas delas passam despercebidas, e acabam nos silenciando, isso não pode mais acontecer” – completa a artista.
Em suas redes sociais, comentários atacam a personagem e a atriz, direcionados tanto por homens quanto por mulheres, mas para Daniela, o ódio transmitido por mulheres machuca mais.
“Muitas vezes a própria mulher que faz esse tipo de comentário passou por algo parecido, mas o machismo estrutural é tão grande que ela mesma não consegue enxergar isso, e continua condicionada a ficar do lado do homem sempre, isso é muito triste” – salienta.
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Para ela, é preciso romper as barreiras que colocam a mulher como “bela, recatada e do lar”.
“Enquanto não quebrarmos esse paradigma, os padrões impostos há tantos anos, vamos continuar vivendo assim, sofrendo esse repúdio. É importante debatermos esses temas e levantarmos essa bandeira, mostrando a força feminina” – finaliza.
As agressões sofridas pela atriz são reflexos de uma sociedade que ainda vê a mulher em um grau de inferioridade, e fazem valer ainda mais discussões sobre feminismo e igualdade. E a dúvida que fica no ar é: até quando seremos vistas assim?
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